Galera, vejam o relato do Missionário Clauber Quadros.
Ele é responsável pelo ministério "Línguas Indígenas" da RTM lá na Tribo dos Ticunas.
Sustentem esse trabalho através das suas orações.

“A intercessão é um privilégio gracioso e poderoso concedido por Deus a cada um de nós, quando levarmos ao seu trono as necessidades de outrem. Intercessão é a melhor dádiva que podemos oferecer àquele que amamos”. (do livro O Habito de orar)
Faço minhas essas incentivadoras palavras para animar o irmão a que dobre os joelhos e interceda por aqueles que ainda não conhecem o maravilhoso nome do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Àqueles que estão caminhando para a morte eterna se nada fizermos!
É nossa a intransferível tarefa de lutar por tantos jovens que caminham na corda bamba da morte pelo suicídio, pelo consumo de álcool e drogas, prostituição e abandono.
A nossa experiência em lidar com as populações indígenas e ribeirinhas aqui do Alto Solimões nos chama a atenção para uma realidade de muitos conflitos entre esses povos. Se por um lado é visível a desigualdade, também é muito claro a discriminação e o racismo de ambos os lados. O ribeirinho-branco é visto como invasor e o índio como exclusivista e egoísta que quer toda a terra só pra ele.
O fato é que nesse cenário de dificuldades de relacionamentos e de posição geográfica complexa e de estarem acidentalmente na rota de uma das maiores portas de entrada para o trafico de drogas na America latina. Esses povos têm realidades que se assemelham em quase tudo. Um sistema de geração de renda insuficiente para atender a imensa demanda de uma população que cresce bastante, a falta do que fazer (falta de emprego), está levando muitos jovens e pais de família ao envolvimento com o trafico de drogas, o aumento de jovens entregando-se ao consumo de bebidas alcoólicas e as drogas, a prostituição infanto-juvenil é alarmante, e na população indígena especificamente, é ainda mais alarmante a questão do suicídio!
A violência doméstica principalmente contra as crianças ainda é uma vergonhosa realidade que alguns aqui insistem em dizer que é uma questão cultural. É ainda costume que numa festa ou mesmo no cotidiano familiar, no momento das refeições, as crianças são as ultimas a serem servidas. E já que os adultos comem primeiro elas, as crianças, recebem menos alimento.
Quanto à atuação do governo; não me parece diferente do resto do país, talvez a única diferença é que aqui, por questões geográficas, sendo muito distante dos grandes centros e dos órgãos fiscalizadores, as coisas sejam mais escancaradas. A corrupção é tema nunca debatido, mas sabido por todos e a impunidade um meio de vida para muitos. 90% dos empregos formais da região estão nos “cabides” do governo (Prefeituras, FUNAI, FUNASA e outros órgãos do governo). A saúde sucateada, a educação de baixíssima qualidade. - No inicio desta semana, uma médico amigo meu me disse que no setor de emergências do único hospital do município, falta desde um calmante para aliviar a dor de quem chega em busca de atendimento, até luvas descartáveis!
Considerando que numa enxurrada de coisas ruins sempre traz mais coisa ruins, - tem aumentado muito os pequenos roubos nas comunidades. Já não se pode deixar uma sandália na porta da casa ou uma roupa no varal, que logo some, e como disse o cacique Cocama uns dias atrás: Se quiser pegar de volta os seus objetos é só ir à casa dos traficantes de drogas que já se estabeleceram nas comunidades.
Há pouco mais de duas semanas, na aldeia Porto Cordeirinho, mais uma jovem da mesma família e de apenas 14 anos cometeu suicídio. Não tenho um numero exato, mas já são mais de mil jovens nos últimos 10 anos que tiraram a própria vida. Consideramos um numero muito elevado para uma população de apenas 35 mil indivíduos que compõem a população dos Ticuna no lado brasileiro (eles estão também no Peru e Colombia). E aqui vai a pergunta que imagino que os irmãos de fora devem querer
fazer: O que está sendo feito para tratar esse problema de saúde mental e principalmente espiritual? Infelizmente a resposta não é nada alentadora. Da parte do governo nada está sendo feito, ainda que o governo federal envie verbas para o programa de saúde mental, que na realidade nunca foi implantado na região. Da parte da igreja local.
Ao que parece, o assunto não desperta muito interesse. Não se discute o tema, não se investe na solução desse terrível mal. Não há um enfrentamento, ainda que muitos dos jovens que se suicidaram tenham sido filhos de membros das igrejas.
Síndrome da Iena - A Iena é um animal que vive rindo, come carniça e fezes... Ri do que?
Nesses rios de tragédias, perdas, mortes e desesperanças para muitos, temos percebido uma realidade bastante contraditória para a realidade local. Uma maré vindo ao contrario. Dando-nos a impressão que a correnteza está agora rio acima. Que tudo está as mil maravilhas e que só temos motivos para nos alegrarmos. As igrejas locais estão vivendo uma fase de muitas comemorações, festas, muitas festas! Festas que duram semanas, que mobilizam toda a igreja e direciona toda atenção somente para as alegrias internas da igreja, ou melhor, para os “alegres” da igreja. Pra que se tenha uma idéia, um missionário comentou comigo recentemente: – Essa igreja já comemorou 2 vezes e meia a sua inauguração e está se preparando a mais de 3 meses para sua festa de aniversario, que promete ser uma das maiores e mais longas da região! A sensação de que existe uma competição entre as igrejas para ver quem faz mais e melhor festa. Questionando porque tantas festas me disseram que a igreja precisa mostrar que é alegre por sentir-se salva. Ok sabemos que a certeza da salvação causa em nós um profundo sentimento de alegria. Mas, saber que muitos não serão contemplados com a salvação por não conhecerem o amor que há em Cristo, e que nada estamos fazendo para que conheçam esse amor, entristece os nossos corações, nos faz chorar e é isto que nos motiva dobrar os joelhos e interceder, abandonar a nossa zona de conforto e ir ao encontro daqueles que o inimigo tem escravizado e lutar para liberta-los. É preciso decidir ir e alcançar verdadeiramente os necessitados, enfrentar os problemas, e tomar a iniciativa e lutar para fazer as mudanças que o Senhor nos comissiona. Pois é mandamento! Só assim a igreja poderá ser chamada verdadeiramente de A IGREJA DE CRISTO!
Oremos para que verdadeiramente este povo se converta e que possam ser curados das suas enfermidades.
Receba a nossa gratidão por seu envolvimento, que Deus continue movendo o seu coração na direção daquilo que realmente alegra o coração dEle.
Abraços.
Clauber Quadros
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